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Opinaria é um blog simples, directo e espero que útil para muitos. É um espaço de livre opinião. Onde todos podem deixar o ar da sua graça, a sua marca, escrevendo um pensamento, uma teoria ou uma simples opinião. Será sem dúvida um espaço de debate... um espaço para todos... verdadeiramente democrático. Contudo, para que assim seja, precisa de participação e muitos temas.

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Wednesday, November 08, 2006

EDUCAÇÃO - LABIRINTO ACADÉMICO

Ninguém irá perceber como, com o deserto cheio de areia fácil para ser comentada nestes dias (Caro Teixeira, permita-me ter opinião) e as constantes novidades do Apito Dourado, eu fugi a essa trivialidade e me propus antes a falar de Educação.
Principalmente porque se vivem tempos complicados no Ensino Superior: a declaração de Bolonha, a politica a entrar nas Academias, a necessidade de um Maio de 68 para nos tornarmos mais contestatários? Já não vivemos na época em que nada nem ninguém era indiferente.
Terça-feira, 1 de Fevereiro 2004. Dia da oral de Neuro-Anatomia. O despertador tocou às 10.30 da manhã, mas apenas fui acordado pela dedicada Mãe as 11. Durante o banho tentei, com insistência, afastar a ideia do exame das duas da tarde. Tentando disfarçar um nervoso miudinho, antes de sair de casa, bebi ainda um delicioso batido de banana e comi uma sandes de fiambre.
Alguém me aturou nos 30 minutos infernais antes da minha chamada. E após outros 30 minutos, terminou. Mais azar teria sido entrar na sala, tropeçar e partir a cabeça. Saíram-me todas as perguntas que eu não queria. Tinha passado, mas apenas com 12.
Triste, embora conformado com o pouco estudo e com as palavras do Professor a solicitar uma melhoria em Setembro, voltei para o carro. Tinha estacionado à frente da Faculdade de Psicologia. Aí, deparei-me com um grupo de 5 raparigas giríssimas! Pensei: Devia ter vindo para Psicologia. Só me apercebi do peso do meu pensamento quando me sentei no carro e tive um outro: Não, devia era ter ido para direito e seguir a carreira do meu Pai. E depois ainda E a Marinha como o meu Avô. Mas o que eu sempre quis foi Medicina.Estava num labirinto académico: a uma panóplia de factores correspondia uma panóplia de direcções.
Não foi, logo ali, minha intenção recorrer ao “cliché” de criticar políticos, medidas e pressões de lobbies pois acredito que a sociedade urbana portuguesa, toda em conjunto, é que tem vindo a criar uma geração protegida que dificilmente assume compromissos e sem grandes opções de escolhas de futuro e, talvez por isso mesmo, se sinta permanentemente insatisfeita.
Optei antes pela reflexão. Apenas a reflexão me conduziria a uma grande urgência na acção, qualquer que fosse o meu lugar na sociedade.
A reflexão aparece-nos ligada a atitudes mentais que nos são indispensáveis. E é, além disso, uma grande libertação da consciência.
Num instante apercebi-me de que não estava sozinho. Quantos e quantos estudantes do Ensino Superior, com os quais todos os dias me misturo no corrupio insensato do quotidiano, estariam na mesma situação que eu. Confusos, perdidos.
A adicionar, existem também muitos medos, dúvidas, fraquezas e preconceitos, dependentes da personalidade de cada um.
Como é fácil de acreditar, são muitas mais as maneiras de contribuir activamente para o desassossego e o sofrimento mental, do que para o bem-estar e para a harmonia.
E, desse modo, perigosamente, cria-se um mundo onde o futuro pode ser uma interrogação.
Nesse ano, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, 88% dos estudantes candidatos entraram no Ensino Superior. No entanto, apenas 6 em cada 10 conseguiram um lugar na sua primeira opção.
Pela primeira vez desde 1996 (!), a ?barreira? dos 18 valores para entrar em Medicina em Portugal foi quebrada. Ainda assim, apenas em 4 das Universidades.
Embora esta situação represente escassos esforços de melhoria, ainda não é suficiente. Está criado um sistema elitista que, por ironia, chumba estudantes com 17 e aprova outros com 8,42 (nota de candidatura do último aluno colocado no Ensino Superior Público).
Este descalabro dá lugar à desilusão dos alunos e às críticas dos pais e professores.
Sem medo das palavras, na Faculdade de Medicina Dentária, há pouco tempo atrás, estatísticas revelaram que foram 0 os alunos que tinham escolhido o curso de Medicina Dentária como primeira opção. As minhas perguntas são duas: Haverá pior para um estudante, após 18 anos de evolução de conhecimento, do que fazer uma licenciatura contrariado? E aqueles que colocaram Medicina Dentária como 1ª opção, onde estão?
Calculo que contrariados noutro local qualquer!
A situação sobrante desta verosimilhança é a criação de Faculdades transitórias e o desagrado e frustração dos seus discentes que não conseguem encontrar motivação, perdem capacidade de trabalho e desistem. É lógico e compreensível que a entrega não possa ser a mesma quando o seu desejo mais veemente não está a ser realizado.
A arte da felicidade tem muitas componentes e a realização pessoal é uma delas. Sou o primeiro a defender a luta pelo sonho e pela ambição.
Contudo, por vezes, a desilusão, seguida pela conformação, apenas precede algo que pode ser bom.
Nas faculdades há de tudo: os que comem na cantina, os contestatários, os trabalhadores-estudantes, os associativos, os do conselho pedagógico, os desportistas, os bon-vivants e alguns como eu, que julgo que tenho sido de tudo um pouco. Por isso, recorro à expressão ?renascer da esperança?, na tentativa de acordar aqueles que já vão para além da decepção académica e já esqueceram o que é gerar empatia, e o tremendo valor e benefícios da compaixão e da amizade.
Embora momentaneamente ainda estivesse com dúvidas, quando terminei a minha reflexão já sabia o que não queria: Seja ele qual seja, e qualquer a razão que eu lá esteja, não quero é ser indiferente ao meu curso.

Fernando Arrobas da Silva

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Infelizmente esta situação de "labirinto académico" em que te viste envolvido em certa altura da tua vida, é algo típico entre os estudantes portugueses. O nosso ensino básico e secundário não está preparado (ou diria antes, simplesmente não tem estruturas) para aconselhar os alunos a seguirem um determinado caminho.

Como é que um miúdo(a) com 15 anos pode ou tem capacidade para determinar sozinho a área de estudo que deve seguir? Claro que há pessoas que desde pequenas têm na ideia uma profissão que querem seguir. Há pessoas que desde sempre se lembram de dizer que querem ser médicas, por exemplo. Mas eu pergunto: antes de se decidirem a ir para a área de ciências no ensino secundário, o que é que fizeram para terem certezas se aquela seria uma profissão para a qual estariam preparados ou até mesmo vocacionados? Testes psicotécnicos, diriam alguns. Eu própria me lembro de no meu 9º ano os ter realizado, e de me terem indicado que a minha vocação estava nas artes, mais especificamente arquitectura. No entanto deixa-me dizer que hoje sou economista!

O nosso ensino é uma vergonha! Não prepara alunos para um futuro brilhante, e por isso depois acontecem casos como o da tua faculdade - nenhum aluno escolheu aquele curso com primeira opção. Eventualmente, alguns poderão lá ter chegado e descoberto que afinal até era aquilo que queriam, mas são de certeza (arrisco-me a dizê-lo) uma minoria.

Lembro-me de ter chegado ao meu 10º ano, na área de economia, e ter descoberto que afinal aquilo que eu queria mesmo era farmácia. Não tive coragem para desistir. Depois, cheguei ao 11º ano, ainda na mesma área, e afinal já estava a gostar imenso do que estava a estudar. E felizmente escolhi uma faculdade que me proporcionou um óptimo ensino, e com a qual eu não poderia ter ficado mais satisfeita. No entanto, quantos casos iguais ao meu, acabaram mal? Que tiveram de desistir? Tenho um amigo que fez o ensino secundário todo na área de ciências, sempre afirmando que haveria de ser engenheiro quimico, e que na altura de escolher o curso foi para economia. Felizmente para ele, deu-se bem, foi um óptimo aluno e, hoje, trabalha numa das melhores consultoras do nosso país. Mas aqui está mais um caso que poderia ter acabado mal. Quantas pessoas, chegam ao 2º ou 3º ano do curso em que estão, e desistem para tentarem outra coisa, e depois afinal também não é ali que se sentem realizados, e voltam a mudar? Tudo isto cria grande instabilidade emocional e profissional.

Isto tudo porque as nossas escolas não preparam os alunos para o futuro, não lhes explicam as opções que existem e em que consistem. Acho que não há nada pior do que trabalhar em algo onde não nos sentimos correspondidos nem realizados. Por isso, o meu conselho seria sempre, apesar de se perder um ano ou dois das nossas vidas, tentarem outras opções. Por isso, acho bem que não sejas NUNCA indiferente ao teu curso!

5:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

"Tinha estacionado à frente da Faculdade de Psicologia. Aí, deparei-me com um grupo de 5 raparigas giríssimas! Pensei: Devia ter vindo para Psicologia."

NO COMMENT... Arrobas de estupidez

12:48 PM  

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